sábado, 12 de junho de 2010

XLIV

A Redescoberta de Prometeu

Estou voltando lentamente a mim
é bom se refazer em um longo sonho
as coisas se explicam por si mesmas
mas tudo é confundido, como o sinal da cruz
não há mais perguntas a responder
não há respostas que satisfaça o devaneio

Olhe os pensamentos insólitos
tudo levita e a cabeça voa
os pequenos insetos esquecem do sangue da pele
graças a Deus que esquecem.
A onda do Mar se fortifica
e a criança não mais chora a falta da mãe.

Agora no silêncio
a burguesia para de explorar o meu corpo
livre na madrugada para escrever.
A lua fica engraçada com suas sinuosas curvas
as estrelas gravitam junto das invisíveis linhas que a segura,
não há uma única mulher nos versos.

Sozinho no mundo
num corpo no apogeu da vitalidade
bate uma vontade louca de fazer sexo,
mas sexo não existe no mundo das palavras
quero a pele aqui nas minhas mãos devaneadas
que se ascenda as velas da loucura.

Acumula mortos na minha história
como é difícil ficar velho.
Tenho medo de mim mesmo
dos homens tenho pena
as vezes nem isto,
mas os versos são para os mergulhadores das profundezas.

Chego a ficar cego
e graça aos deuses ninguém nasce homem
se usamos este nome feio
é que algum idiota o colocou
e as criança não tem sexo
e o homem não tem gênero.

Estou rindo da burguesia
há um arco-íris na escuridão
e o coração em gelo chora
com as lágrimas esquecidas ao canto
e os vultos reaparecem
são os fantasmas que me persegue.

Chega de escrever
os defuntos não se assustam mais
é como se a noite tomasse outro rumo
e um pequeno amor ameaça surgir na canção
no balanço há um fantasma carinhoso
indo para lá e para cá se despede do homem em mim.

Estão chamando
Se os anjos pudessem ler estes versos
ficariam tristes por não verem a luz na sombra da noite
o valor que tem o tempo,
infinito, na eternidade das mãos.
Por que está repleto de passarinhos cantantes ao meu redor?

Voam feitas loucas as pequeninas crianças.
Eu não consigo parar de pensar
como deixei os pensamentos irem embora sem mim
a imaginação em neve,
as vazias alucinações,
Os seios e as salivas que nela gozava.

O coração fatigado
a noite em trabalho duro
os olhos abertos querendo fechar nos sonhos.
Cansados de tantas razões
os trabalhadores esquecem do mundo em um segundo de amor.
A fome e a miséria estampada na cara das pessoas
e os ricos guardo com desprezo.

Apenas lembro do gosto da sua pele
a riqueza que dela jorrava.
Agora posso dormir
esquecer das noites de pesadas vigílias
aquecer a sua pele
e agradecer Prometeu, o Deus do esquecimento.

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