quarta-feira, 31 de março de 2010

XXI

Decadência.

Aqui jaz poetas se suicidam,
mentindo ao mundo.
Pensam em conquistar uma jovem
e não há um verso de amor.
Todas as ilusões foram mortas
junto dos sonhos que juram eternizar.

Aqui jaz não há mais rima
a gramática é um atentado aos artistas.
A alegria parte sem harmonia
vazios se erguem do meio do nada.
Absolutos, como o homem que morre
e a morte é a rainha soberana.

Aqui jaz intelectuais estuprados,
pela a lorota que alimentam no peito,
a arrogância, a mediocridade, a inveja
e intolerância dos homens feitos de vaidades.
A verdade cortou as próprias cabeças
e segue o curso dos filisteus da cultura.

Aqui jaz parte o coração partido
os sentidos em banalidades.
Os homens mesquinhos
se afastem
Há o medo, a insegurança e a incerteza?
Ou será os seus olhos que se perdem nos meus?

Aqui jaz o mundo em decadência
na própria prepotência.
Pessoas secas sem amor
hipocrisias, charlatanismo
mesquinharia e arrogância
viram cinzas neste Mar ardente.

XX

Fogo

Não sabíamos se estávamos voando,
ou se éramos estrelas cintilantes
deslizantes do céu,
nem se olhos eram nuvens
que lacrimejavam em outros olhos.
Chegamos em fogo pelo mar.
E nos instantes insensatos em que as chamas se aqueciam,
aterrorizando as águas e formando um furacão
vi seus sentimentos partirem no ar.
Era no vento que as mãos deretinham,
no forte gemido da sua pele.
Os corpos em pedaços como as conchas que se abrem,
se em alguns instantes faltava ar,
ficava voando em círculos pétalas vermelhas
que lembrava o amor
de seres perdidos em chamas,
queimando as regras do coração.
Não há mais no peito a rosa que morreu,
o tempo queima todas as crenças,
os fundamentos humanos pequenos calcanhares de Aquiles,
as verdades estão todas mortas
e as salivas escorem pela a pele
aquecidas levemente pelo o fogo que alimenta a vida.

XIX

Se hoje o seu corpo desaba,
no doce vento que corta a alma,
como as folhas das árvores
que imitam as borboletas durante a queda.

Se hoje os seus seios são dois precipícios,
que deliram nas salivas
alimentando o desatino do sonho vadio,
exaltando a vida que nutrimos no peito.

Se hoje você se fez num pássaro,
como o amor ventoso de desejos
perseguindo as noites,
cheirando orgias e inquietando os amantes.

Se hoje sua boca grita,
pelo corpo no meio do nada:
louca, delirante, extravagante,
excêntrica, perdida, de sorriso ébrio.

Se hoje você corre torta,
esquece de todas as regras,
anda virgem de humanidade,
parte e si parti....

Se hoje o seu ser me ilumina,
como uma tocha ardente,
um brilho intenso do mar,
seguindo louca luzente de ardor.

XVIII

2007
Busca

I

Agora livre para escrever
mas a vida presa,
como as gotas do frasco vazio.

II

Novamente a busca vã de ti
inútil é o caminho
e a forma que acredito ter
sombras apagadas.
Se sou sol, sou mar, sou água
são mentiras de outras existência.
A minha matéria é corpo
No suplico da morte um verme passeia na boca.
Um ser que lhe come
algo incompreendido
como a água
só que não escorre de noites sem vida.

III

Esqueci um dia minhas mãos num lugar deserto
acreditava que lá estava o amor
eram as invenções diárias da contenção.
Queria eu viver mais um pouco,
ou era só uma desculpa do caminho.
Não sei o que era
Sei que não era eu naquele corpo
roubaram de mim a sorte
e não era a morte que temia
apenas tremia em noites vazias
era pela a falta de versos que jazia
agora encontro comigo
e será eu este o caminho
o único que ainda não segui.

IV

É Deus a mentira do mundo
a breve gota de lágrima.
O céu derrama feito vulcão
são as larvas que lavam a alma
derreti nesta pequena tarde de sol
e o mar seca a minha pele
Vejo agora águas puras na transparência
São apenas os olhos que vê
O corpo não sente
pois os sentidos são diferentes
o toque e o cheiro
a audição e o paladar
são de ritmos diferentes
é como existir em vários tempos da salivas.
entendam agora a minha sabedoria.

V

Se me pego feito água
é que dos olhos ela escorre
as mãos ela refresca
os ouvidos ela aniquila
o nariz ela afoga
e o corpo ébrio se derrete em seu passar
Sou água em toda a extensão de meu corpo.
mas a água não é eu
ela é infinita no mar
em um corpo efêmero que a engole.

VI

Ainda parto indeterminado
o lápis um pedaço de mim
não tente me descobrir
e não perca tempo com você
é tudo muito simples
as coisas acontece assim
indefinidas assim
Lembro do aroma da infância
eu era a sopa servida na escola
um gosto que nunca mais senti
a existência é o sentir dos gostos
viva como quem vive para sentir.

VII

São cinco mãos que tenho
uma para amar
a outra para desprezar
a terceira não sei ainda
a quarta é meia louca
e a quinta uma caneta.
VIII

Se meus cinco sentidos falassem
mas é meia fosca a cor do céu
cada dia vejo de uma forma as aventuras humanas
é tudo sem governo
para não falar desgovernado
o caos é o mundo
e ele se chama Homem.

IX

A esta regra tenho que escapar
mas porque me colocaram na escola
mataram o animal em mim
e colocaram um monstro em seu lugar
Este monstro se chama Homem
agora posso me desfazer
serei para sempre anti-humanista
sem filantropia nas mãos
sem hipocrisia no coração
a falsidade é a doença do século
e ela se encontra na superfície
a mentira, a inveja são as calunias da noite
para sempre subjucida
para sempre versos negros de dor.

X

Ficarei parado aqui
antes que o sol nasça e me preencha com sua luz
nem mais um passo
a noite é meu nome
que se consuma as metamorfoses
agora o corpo decide por si mesmo
não há o uno em mim
minhas mãos nega a consciência
e o devaneio se esgota
com a breve gota da chuva.

XI

Estalo os dedos na dor
quebro os copos na noite
gosto de barulhos excêntricos
espinho os pedaços dos dias
as pessoas se cortam por migalhas
a miséria é o Homem nas suas condutas moralista
e mas nada posso fazer.

XII

Era uma possa lamacenta
os olhos de barro
escuro canto na lama
silêncio se fim me ame
na boca que respira
nenhum sentido senti
já se acaba a busca
e o mundo em brejo me parte.

XVII

Ajuda-me

Não sabia como ajudá-la e nem como ali me encontrava, as lembranças eram vagas, tantas pessoas desconhecidas conversando. A confusão das vozes me colocava distante de todo o proceder da linguagem. Ela estava sentada do outro lado da mesa, observava com os olhos longínquos, enquanto eu pensava sobre os sentimentos de ajudar as pessoas. Nem eu mesmo me ajudava e na escola aprendi que cada um deveria ajudar a si mesmo. Hoje penso que isto é egoísmo, de minha parte procuro pessoas com quem posso dividir sofrimentos. Mesmo assim, nunca consegui ajudar ninguém, não sei como ajudar as pessoas. Ás vezes acho que elas são incapazes de lidar com os sofrimentos dos outros.
Mas ela havia me feito um pedido, um pedido imensamente profundo, de uma sensibilidade inesgotável. Por mais que ele me deixasse demasiadamente obstruso era impossível ignorar o ato de desespero que se reconhece na súplica dum pedido. O meu estranhamento se dava devido ao ângulo de visão que tinha das mulheres. Ao que parece às mulheres gostam de ajudar e não serem ajudadas. Os seus problemas são sempre maiores do que realmente são. Ao rever o que carentemente acreditava sobre as mulheres, achei apenas que era uma mulher diferente e as suas atitudes me afastava de qualquer discussão de gênero.
Os aspectos físicos peculiares e um rosto incomum na imaginação dos artistas, cujas particularidades são impossíveis de descrever. Os olhos grandes e verdes me impulsionavam para si sem que percebesse, até mesmo, distante os procurava. Ele trazia a lembrança da fotografia duma refugiada indiana que eu olhava com admiração no jornal. Não estava apaixonado, ou pelo menos pensava que não. Sei que um homem apaixonado se ilude com os olhos de uma mulher, mas não estava apaixonado, pois todos os homens daquele bar partilhavam da mesma admiração. Será que todos tinham visto a foto da refugiada indiana? Não foi este o caso. Será que era uma mulher capaz de fazer todos ficarem apaixonados? Não! O nome para isto era atração, nós estávamos atraídos feitos cães carentes de carne, era a beleza frente a nossa imaginação que nos enlouquecia. Sim, ela era capaz de seduzir os homens a sua volta. Ao mesmo tempo, que homens se multiplicavam ao lado dela querendo consumir a maçã em desespero parecia que estávamos como presas na teia da aranha, onde não teríamos chance, onde todos se encontravam derrotados em sua própria desventura. Os meus sentidos não cessavam de perseguir aqueles olhos, fazendo o eu se perder em mil pensamentos de intenso brilho abismado.
Os lábios dela eram fora do normal e o resto do corpo se escondia embaixo da mesa, como quem não quer ser visto, como algo que se cansa dos olhos que em si cessam. De onde herdara aqueles lábios? Eles se multiplicavam em dois conforme o rosto se movia e a noite passava rodando em copos de bebidas. Não eram finos e nem grossos, mas pareciam macios. Por um instante pensei em tocá-los, achei o momento inadequado, mas não teria outra chance. Achei que nunca mais a veria e que minha vida seria uma grande inutilidade se fosse incapaz de fazer o que queria. Encontrava-me em total desespero, não sabia o que fazer e nem como agir. Pensei em me atirar entre as estrelas, correr para uma rua deserta para saciar a libido com uma rapariga, mas lembrei que o dinheiro que tinha era pouco, já havia gastado muito naquela noite e que sexo não iria equilibrar o meu desespero. Após algum tempo acabei por abandonar as idéias.
Ela continuava sentada do outro lado da mesa, as minhas mãos eram incapazes de alcançar os seus lábios, mas distante se encontrava a minha boca. Queria tocar os lábios dela com a boca. Somente sente os lábios de uma mulher com outro e, ás vezes, há necessidade da língua. Queria correr minha língua pelos os lábios dela. Pensei em pedir um beijo, mas um beijo não se pede. Lembrei das frustrações que este pedido me causara na adolescência: de todos os não que se escuta querendo ouvir um sim e dos não que se expressam querendo dizer sim. Nunca consegui um beijo pedido, apenas roubado. Pensei em roubar o beijo, mas não era mais adolescente, não tinha a mesma agilidade com o corpo e nem o ânimo de quando era mais jovem. Ficava apenas lamentando com a memória de um jovem velho.
Há muito tempo não sentia vontade de roubar um beijo, e foi matutando sobre isto que decidi que a minha memória apenas seria útil se me fizesse lembrar dos grandes feitos do meu passado, não precisava de uma história que me condenasse, que me impelisse a tocar naquela boca, já me basta viver com o céu em desespero, num mundo que a todo tempo nos impõe limites. Não deveria fazer o mesmo! Achava que enquanto pessoa, na minha experiência particular poderia extravasar com alguns valores, poderia superar as condições morais do meu tempo, mesmo, que as econômicas fossem mais difíceis.
A minha história teria que me ajudar a agir e a viver, o resto estaria morto e enterrado. Todo o passado havia morrido num piscar de olhos, realmente, teria eu visto os olhos dela a piscar. A dúvida tomou conta de mim, prossegui com o anseio de colocar limites a minha imaginação e a minha memória, ou teria simplesmente que reinventar o passado para que ele não me inventasse, já que o presente importa muito mais. Se não o faço o passado me deixa doente no presente.
É uma sabedoria antiga reinventar o passado, as mentiras que gostava de ouvir quando criança passava pela a minha cabeça em imagens célticas. Assim, ansiava os meus grandes feitos, dos personagens da minha infância que vivificaram a minha vida, pois reinventar o que não existe é impossível. Algumas mentiras e algumas coisas de verossímeis passeavam na minha memória. Eu tenho uma história e não é tão ruim, mas nunca foi boa, pois não consigo separar a minha história do resto da humanidade. Mas naquele momento apenas o beijo importava, lembrei que desde cedo, muito cedo, tive que adiar os estudos para trabalhar. A verdade é que estudei apenas de teimoso, nunca tive que adiar os estudos, pois nunca tive oportunidade de estudar, realmente, foi a minha teimosia que me fez estudar, então, teria que ser teimoso e roubar o beijo.
A minha memória me trás algo de bom: a minha teimosia! Nunca tive responsabilidades, bom gosto para músicas, dom para a arte e êxito com as mulheres. Sempre tive e tenho muito mais teimosia...Este traço genealógico é importante em minha fisionomia, percebo que sou imensamente meu, isto é, um ser teimoso. Reconheço o meu passado. Descobri quem sou? Nem tanto! Mas agora posso agir no presente, falar no presente, gritar no presente.
Sabia que era uma pessoa teimosa que iria beijar aquela mulher e que faria tudo para isto, mesmo contra a vontade dela, a beijaria com certeza e não haveria dúvidas, pois um homem teimoso é capaz de qualquer coisa. Lembrei da história dos homens. Neste instante, da história de todos os homens. Pensei que a história apenas existe devido à teimosia dos homens: - de não aceitar o que está dado e de querer mudar o que existe; - de não se identificar com presente e de buscar exemplos do passado para transformá-lo. Sim, tinha uma sabedoria histórica: inicia a história quando muda as possibilidades para as experiências humanas, quando os homens começam a serem teimosos. As minhas possibilidades estavam mudando, pois a história é a teimosia e eu era a teimosia de beijar aquela mulher, por alguns segundos me vi como sujeito da minha história.
Mas como se um anjo mal me encontrasse sozinho e perdido, mais uma vez, a minha imaginação me limitava. A teimosia não é um sintoma de melhoria nas condições da vida das pessoas, ela se caracteriza pela a transformação. Assim, questionava para que saber do meu passado se as coisas poderiam mudar para pior. O anjo pessimista chamado João trouxe todo o sofrimento de volta, um sentimento de impotência tomava conta de mim, o desespero e o medo novamente se fizeram presentes. As criações históricas podem levar os homens ao aniquilamento. Isto era o que passeava no pensamento. Poderia eu morrer naquele beijo! João morreu três meses antes destas palavras nascerem e dizem os ilusionistas que foi pelo o beijo de uma mulher.
Ao tentar escapar do presságio da minha morte que parecia inevitável. Comecei a pensar nos sentimentos de bondade e de maldade. Nem sempre aquilo que se diz ser bom é bom: vice – versa. Acreditei que muitas coisas que se dizem ser más eram boas. Talvez todas as tentativas de fazer um mundo melhor eram desculpas para deixá-lo pior, pensava em fazer um mundo pior para deixá-lo melhor, mas acho que este ato revolucionário é ridículo para a minha sabedoria histórica. Achei que o mundo já estava criado e o que importa é transformá-lo, mas esta observação também era pobre para a minha memória. Procurava em todos os cantos do bar uma maneira de evitar a morte, ou será que já estava morto e não sabia? Parecia que sim, no momento que meus olhos cessaram sob ela. Comecei a pensar que todos os meus problemas eram exatamente uma única mulher. Pensei em matá-la, ou ela ou eu! Preferi aceitar a idéia que não existe finalidade para a vida humana e que qualquer mudança era bem vinda para o momento de desespero que me encontrava. A verdade era que pior era impossível. Esta resposta era a que mais me agradava, a que me manteria vivo e, com ela, a falta de esperança também revivia.
A minha infância veio na mente como um grito de socorro. Quando criança freqüentava a igreja para ver pessoas e não para chegar ao paraíso. Tinha muitos amigos devotos e não podia viver sem eles, mas hoje está tudo bem, pois a solidão é minha melhor amiga. Quando parei de acreditar em Deus descobri que nunca acreditei, ele apenas foi um meio de reviver com os meus amigos, já que a minha história faz parte de todos os homens não posso acreditar em um Deus que profana contra a vida pela a boca do padre. Diz na igreja: os justos serão abençoados, mas há uma grande injustiça na justiça. Ela exige um esforço dos homens, de cada um, um consenso, o teatro dos fracos para se chegar ao paraíso. Enfim, tem que ser justo e para uma pessoa que não gosta de fins como eu, acho estas idéias insuportáveis. Ao que parece são idéias egoístas, chantagistas e individualistas.
Acho que não sou tão fraco para ir para o céu, embora também não me simpatizo com o diabo, mas a vida parece mais envolvente no inferno. Será Deus que fala para os homens fazerem as coisas visando outra? Não existe mais solidariedade no mundo exceto as raras exceções de pessoas que pensam em ajudar as outras e, eu, naquela noite, sem pensar sobre o assunto fazia parte desta tribo. Inocente tribo! A recompensa, o futuro promissor, o reino do céu, a glória, o heroísmo, a justiça, a igualdade e a solidariedade há muito tempo haviam desistido. Estas palavras acabaram mortas como simples palavras. Aliás, esta é a primeira vez que penso nas repugnantes ideais divinas. Percebi com o tempo que tudo era apenas uma das maneiras de ver. Existem outras tantas possibilidades de vidas já vividas na terra. Sim, já se viveu muito sem Deus na terra e é esta a sabedoria histórica que me dá certa desesperança para o futuro. Ainda bem, porque a esperança se tornou um mandamento divino.
Ah, mas a voz da igreja novamente. Não, sim!: Orai irmãos para que o vosso sacrifício seja sempre a vossa vontade. Sacrifício = vontade, vontade= sacrifício. Socorro! A vida terrena se confunde com o sofrimento, apenas é uma passagem para o paraíso, um passaporte barato para uma viagem sem fim. O paraíso é o que importa que cada um pode alcançar por si mesmo, basta ter fé. Isto é o pior! O desespero aumentava, junto com a minha história que não pode aceitar todos os disparates dos homens. Deus não faz parte de minha história desde criança. Nela, o importante sempre foi correr riscos e fazer o melhor possível da vida terrena. Sou um homem da terra! Poder-se-ia viver melhor aqui, deixar a vida mais envolvente, então, porque viver melhor em outro mundo? Ah pensei que iria esquecer de mencionar que nunca gostei de padres....
Há muito tempo à consciência de risco tomara conta da minha vida, minhas aventuras infantis no Morro da Paineira eram provas disto. Lá sim, uma criança é feliz, já que estão sempre superando os seus limites. Época boa! Não tinha medo de nada, mesmo quando me machucava, sofria e chorava com a minha teimosia. Lembro que uma vez cai do tronco da paineira mais alta que tinha no vilarejo, fiz um corte imenso na perna e perguntei a minha mãe quando iria brincar na árvore novamente. Minha mãe disse: nunca mais! Achei que nunca mais era muito tempo para uma criança. Sim, três dias era muito tempo, ou tempo suficiente para o corte se fechar, pois um garoto teimoso não sabe medir o tempo. Em três dias, ou nunca mais lá de cima do pé da Paineira Gigante, do meio dos espinhos da árvore, avistei um disco voador. Ai! Fiquei com medo! Mas foi uma das maiores experiências da minha vida e entendi que o mundo é muito grande para uma criatura pequenina como eu.
Imagine só que quando pequenino já brincava de ser Deus, substitui Deus por mim mesmo, não por mim mesmo, mas pela a história de todos que me fizeram se reconhecer como homem. Estes me ensinaram o caminho dos sonhos, mostraram que existem vários deuses e extraterrestres, pois um Deus só é muito pouco para uma criança. Assim, transformo, multiplico, recrio e intensifico o mundo de sonhos que herdei. Este mundo que é o único mundo real. Aliás, não sei diferenciar sonhos da realidade. Penso que estava sonhando com o beijo de uma mulher e agora as coisas mudaram. Os sonhos se transformam! Mas voltando ao primeiro sonho, a virtude de ser teimoso é fazer de nossos sonhos realidade e quando os homens vivenciarem os sonhos abrirão um mar de possibilidades para as experiências humanas. Sim, a minha sabedoria histórica me dizia para ser teimoso, para viver minhas aventuras, mas também me dizia para ser prudente e ter responsabilidades com os meus atos. Nunca fui responsável, mas pensava na responsabilidade com a inocência de uma criança. A verdade é que estava em um dilema e novamente desesperado.
Neste dilema, pensava que muitos dos atos de teimosia levaram os seres humanos à experiência arrepiantes. Comecei a matutar sobre o fascismo, o quanto que tinha de teimoso naquele regime. Minha mente se ofuscou, pensei em ir embora, deixar aquele bar e nunca mais voltar. Deixar que meu desespero me levasse para dentro das estrelas, mas bebi em um só golo a cerveja do copo de cima da mesa e alguém resmungou: Ah, meu copo. Fiquei um pouco mais tonto, mas não o suficiente para levantar da cadeira e me atirar entre as estrelas. Então, olhava para os lados e me sentia imensamente sozinho, na solidão, bebi outro copo cheio de bebida e desta vez ninguém reclamou, acho que o copo era o meu. O copo certo para pessoa errada! E por que estamos sempre pensando no silêncio que não se ouve? Sim, o silêncio havia tomado conta da mesa e nem isto me acalmava, todas as coisas pareciam inúteis: a cerveja, os lados, os copos, o silêncio, os meus pensamentos, a minha história, as estrelas, as bebidas, o beijo, a minha infância, a imaginação, a memória e Deus então nem se fala.
Comecei a pensar espontaneamente se a beijasse contra a sua vontade toda a ilusão que tinha de seus lábios acabaria, mas os homens não podem viver de ilusões ou podem? Mas a verdade é que queria tanto o beijo que acabei de esquecer da falta de sentidos que me atacava naquele silêncio. Entretanto, não poderia agir desmedidamente contra a vontade dela. Tem certas ações que afetam para sempre o curso da vida das pessoas. Isto, a história havia me ensinado. Achei que o momento era inadequado e entendi que minha história era uma faca de dois gumes, pois me fazia sofrer e me ajudava a viver, como um pai a orientar seu filho o impulsionando e o impelindo para a vida.
Não restava nenhum ato de heroísmo em minha memória para lembrar, aliás, a história havia matado o heroísmo em mim ao ensinar que o enredo de nossas vidas são curtos. Não estava em condições de pensar, o pensamento só me atrapalha. Até o momento a razão me limitava, por isto, quis ser criança novamente, quis ser teimoso e inocente para encontrar a resposta que precisava e mais nada necessitava pensar. Eu inocente como uma criança, não tinha culpa em relação ao passado que não é apenas meu, mas de toda a humanidade. Neste momento eu era apenas ação!
Antes que meu ato de desespero se concretizasse, ela do outro lado da mesa do bar, com os olhos fixos no meu, numa voz doce e calma suspirou em meu ouvido: por que você me olha tanto? Ela era realmente diferente, uma mulher nunca faz este tipo de pergunta, quando percebe que foram descobertas por um homem os ignoram, não puxam assunto, esperam que os homens tomem as devidas atitudes, mas ela era uma mulher de atitude e eu com os ouvidos atentos e com o encanto doce de uma criança sem graça, perdido e enfeitiçado pelos seus olhos disse: quero beijá-la! Não acredito que disse isto, não deveria ter pedido, mas eu disse isto também. Ela sorriu, chegou mais perto de mim e me beijou. Naquele momento tudo se misturou com imensa intensidade, não sabia distinguir a minha boca da dela, não sabia se estava fazendo história, ou sendo levado por ela. Após o beijo, olhou fixamente nos meus olhos e me fez o pedido: ajuda-me.
Conto escrito em meadas de 2005... Ainda não pronto...

sexta-feira, 26 de março de 2010

XVI

Eu tenho que começar por aqui, será meu primeiro delírio, não quero que as pessoas mim conheçam pela a minha biografia, não nasci para ser compreendido, eu acredito apenas que existo e se alguém me criou tão pouco me interessa, deixo os cientistas e suas loucuras de lado, abandono as filosofias, renuncio desde já o conhecimento teórico que me deram, quero apenas sentir todas estas palavras e a mim mesmo. Como algo impensável que flui como os movimentos das ondas e se pudesse me comunicar com um olhar nele estaria escrito os rumos silenciosos das mãos.

XV



Escrevo letras às vezes, elas deslizam, voam como pássaros, saltam como a chuva e se tornam terra. Também sou terra, ela esta em cada poro da minha pele. Nela piso todos os dias, não para maltratá-la, como se ela me deixa acariciá-la e depois me leva para dentro, engole-me como entranhas vivas. E eu como morto tenho um orgasmo. Sim, a “terra”, mas o planeta terra me cansa um pouco, os seres humanos me cansam, sugam minha energia, tomam minha liberdade, querem roubar minhas palavras, como se eles fizessem parte delas, como se eles estivessem sido pássaros um dia.

XIV

A sociologia é onde consigo o meu sustento, o que me mantém digno, um trabalho que de determinada maneira é justo com meus pensamentos, mas se me perguntar: se sou um sociólogo? Direi que não! Não acredito neste ofício pobre, rudimentar, grotesco e científico. Sou um artista, escrevo e é isto que sei fazer.

XIII

Ah é tão belo não ter nome e ser ouvido de um espaço vazio. Tenho 28 anos contando de trás para frente e acredito que posso ser ouvido mesmo estando no vazio, pois tenho um sonho que é voltar a ser criança, por isto, conto a minha idade de trás pra frente, amo as crianças e a beleza delas serem espontâneas. Nelas, há apenas a maldade natural de um animal e não de um ser humano.

quinta-feira, 25 de março de 2010

XII

Rabiscos.

Não quero criar o mundo em um sonho
não quero um sonho no mundo.
Quero moldar o homem
em seus pequenos rabiscos.

Quero uma gota, uma lágrima um grito no meio do nada.
Quero loucuras, delírios, o vento do peito desesperado
E um pequeno amor sereno.

Quero traçar cada linha,
exagerar nas cores,
borrar as mãos,
pintar o sete,
deformar as formas.

Quero sentir os corações flutuando
na ardência da carne
no respiro do orgasmo
em seus pequenos gemidos.

Quero navegar na areia,
em um barco feito de pluma
ventoso ao abismo
longe de todas as explicações e fundamentos
longe dos rígidos horários humanos
para o fundo do Mar que me sustenta,
onde o mundo se inverte em um rabisco...

Quero que as estrelas caiam sobre as cabeças
abrindo a porta dos corações.
para que algo maligno
agite sobre os corpos mesquinhos
misture o escuro e o claro
aumente a cavidade da lua
aprofunde a alma em um esplendor de ondas.

Quero que os olhos partam do horizonte
que as idéias morram em suas fúteis verdades
o cérebro deforme a curta razão
e que tudo vire corpo
e o prazer reine infinitamente
sobre as castrações e hipocrisias impostas todos os dias
no tempo da imbecilidade.

Quero de uma vez por toda não ser poeta
não sentir os raios contagiantes destes dias banais
não me ver como pessoas no caminho do paraíso.
Não guiar e não servir
não nascer e não morrer
e que um forte relâmpago acorde os homens,
para que tudo seja sentir.

Quero muito mais do que os sonhos românticos,
do que os olhos estonteantes.
do que suas mãos frias correndo ao corpo
quero ter uma casa não para se esconder
mas para abrir as portas
cercada de estrelas para guerra.
desesperar com grandes amores.

Quero que o mar penetre em cada poro
entre as pernas
dilate as vaginas rindo
chegue ao útero
e que renasça no corpo
a vida cintilante gritando
com o cheiro ardente do desejo da carne.

Quero que nos rabiscos que pintam a alma
que tudo vire água
e aquilo que é passe a ser
sem os julgamentos dos juízes da moral.
sem os seus olhos atrás dos meus.
sem a esperança e a compaixão,
sentimentos que enfraquece o coração.

Quero correr descalço
nadar pelado
sentir os próprios pés
flutuar no ar...
Roubar o vento dos deuses
ter um orgasmo a cada instante
sobre a luz da lua.

Quero homens enlouquecidos no devir.
no apogeu da vitalidade
no germinar da vida
na selvageria da natureza
e podendo enfim se acabar.

Quero que uma chuva forte
apague brevemente todas estas palavras
para que nada seja ensinamento
Para que nada seja coesão
Para que os rabiscos que em meu peito agita
dobre-se sobre si mesmo
em um desejo impetuoso pela a vida.

quarta-feira, 24 de março de 2010

XI

Não se lembras
de minhas mãos correndo desesperadas
como a lua perdida em nuvens
e do sopro no coração que deixaste
confundido no seu olhar

Na se lembras
da imaginação tarada perdida
e nas palavras elusivas da noite.
cravando uma história
no desaparecimento do desenho

Não se lembras
dos olhos que fisgou.
nas entranhas de uma rua deserta
sentada a mesa do bar
e os mundos que por aí passou

Não se lembras
das sombras que fiz
ao tentar iluminá-la
ou perdê-la nos ritmos do coração
contaminei estradas com parte do seu sorriso

Não se lembras
dos olhos que partiu
e lá do alto gritou
a falta de ar que sinto no peito
no despedaço dum mundo morto.

Não se lembras
que descrente fiz os dias.
que das mediocridades
me enfartei
e fiquei mal acostumado com as ilusões

Não se lembras
que procuro lugares para me proteger
longe dos imbecis cerrados nos automóveis
e dos prédios que ficam a me fitar
babacas sentados nos altares mesquinhos.

Não se lembras
que nos ritmos há sombras
que criamos para a diversão
como ondas indomáveis
que atrevo subjuciar no tempo do desespero.

X

Posso caminhar deserto
e não me ver
Posso passar a passagem na rotina
inventar momentos eternos na água
e dos olhos tirar uma lágrima.

Posso perder o vôo que me prendo
e de vista ofuscar a mim mesmo
desaparecer num beija flor
como as nuvens e as suas sombras.

Posso terminar o tempo da loucura
acreditar nos peixes mortos ao sair do Mar
e na vida que deixamos na fragilidade dos dias
e assim se esconder em terra
num passar fumegante de ar..

Posso caminhar sozinho e não ver
brincar com as batidas do coração
silencioso no absurdo das mãos
gritante ao delírio o mundo
e a imagem do Mar se perde

IX

Se o que penso
voltar em palavras
encontrarei com a loucura
fria e lentamente.

Se o que penso
gritasse no mundo
poderia eu ser ouvido
como um tolo em uma parte dos homens.

Se o que penso
Fica guardado na escuridão do Mar
não descobriremos
a beleza da incompreensão.

Se o que penso
se agrupa em silencio
nas mãos dos mundos solitários
a imaginação se cala diante das oferendas.

VIII

Cai o vento feito fogo
o principio da vida novamente nas mãos
sopra uma luz distante
que entorpece o corpo na aurora.

No brilho fosco incompreendido
para o silencio em vozes
perde-se oh alma
com salivas que amargam a pele

A beira mar
rouco é o mundo
e o grito é vivo

Situado como
aqueles que delíra
nas sombras do desespero.

VII

Correndo pelas as mãos
num tempo morto
com homens mesquinhos
na busca do dinheiro.

As salivas tocam o céu desesperadas
Arranca com a pele o fogo ardente,
Em desejos ventosos
se equilibra o devaneio

Há chamas cáusticas
que continuam a ascender
de tempos em tempos
ensinam ao homens a amar.

Há gritos nefastos
que tiram as pessoas do si mesmo
para voar a labirintos inexplicáveis
do amor ao tempo da loucura...

VI


Oi, meu nome é Silvio, mas prefiro não ter um nome, não ser chamado por ninguém, ser para sempre incompreendido, como algo que ainda não nasceu, ou que nasceu só que não foi inventado pelos homens e nem pelos deuses, que possui uma magia antiga daquelas que o coração sente. Às vezes tenho medo de sentir:de amar alguém, de apaixonar e de enlouquecer. Eu tenho medo de todas as coisas boas que se aproximam de mim, porque não sei explicá-las, não sei o que é amor, dizem que é uma pequena palavra de quatro sílabas construída pelos homens, mas que é difícil de sentir. Mas se o amor é uma coisa boa porque os homens têm tantas dificuldades para senti-lo? Esqueci de dizer que tenho uma mania de fazer perguntas estranhas. São perguntas chatas que me deixam triste e me faz pensar como um ser humano. Elas, surge quando esqueço de sentir e fico a querer explicar o que sinto. Acho que nasci para sentir a humanidade e as coisas, mas é claro que a humanidade são as coisas e as coisas são a humanidade. Sei que nunca vou ser um pássaro, mas gosto de senti-lo bebendo água e gosto de sentir a água que o pássaro bebe quando bebo água e assim me torno um pássaro, vôo por todos os mundos. Sinto que algo dele está em mim, bem dentro de mim, como se ele fosse eu.

V


Ah é tão belo não ter nome e ser ouvido de um espaço vazio. Tenho 28 anos contando de trás para frente e acredito que posso ser ouvido mesmo estando no vazio, pois tenho um sonho que é voltar a ser criança, por isto, conto a minha idade de trás pra frente, amo as crianças e a beleza delas serem espontâneas. Nelas, há apenas a maldade natural de um animal e não de um "Ser Humano".

IV

A sociologia é onde consigo o meu sustento, o que me mantém digno, um trabalho que de determinada maneira é justo com meus pensamentos, mas se me perguntar: se sou um sociólogo? Direi que não! Não acredito neste ofício pobre, rudimentar, grotesco e científico. Sou um artista, escrevo e é isto que sei fazer.

III

Escrevo letras às vezes, elas deslizam, voam como pássaros, saltam como a chuva e se tornam terra. Também sou terra, ela esta em cada poro da minha pele. Nela piso todo dia, não para maltratá-la, como se ela me deixasse acariciá-la e depois me leva para dentro, engole-me como entranhas vivas. E eu como morto tenho um orgasmo. Sim, a “terra”, mas o planeta terra me cansa um pouco, os seres humanos me cansam, sugam minha energia, tomam minha liberdade, querem roubar minhas palavras, como se eles fizessem parte delas, como se eles estivessem sido pássaros um dia.

II

Eu tenho que começar por aqui, será meu primeiro delírio, não quero que as pessoas mim conheçam pela a minha biografia, não nasci para ser compreendido, eu acredito apenas que existo e se alguém me criou tão pouco me interessa, deixo os cientistas e suas loucuras de lado, abandono as filosofias, renuncio desde já o conhecimento teórico que me deram, quero apenas sentir todas estas palavras e a mim mesmo. Como algo impensável que flui como os movimentos das ondas e se pudesse me comunicar com um olhar nele estaria escrito os rumos silencioso das mãos.

I

A sede eterna das mãos
silenciosa da noite em gritos
carente de sentidos do amor
feito chamas apagadas na brasa.

A busca do Mar indomável
e de sonhos vive um homem?
é o delírio que se afasta das sombras
nefasto na escuridão de estrelas

És suave na essência selvagem
e flutua indeterminada como ondas
desgovernado e leviano o corpo.

Passa um vento rindo da cara dos homens
como os pássaros indiferentes das explicações mundanas
saltando para fora do mundo...........