quinta-feira, 25 de março de 2010

XII

Rabiscos.

Não quero criar o mundo em um sonho
não quero um sonho no mundo.
Quero moldar o homem
em seus pequenos rabiscos.

Quero uma gota, uma lágrima um grito no meio do nada.
Quero loucuras, delírios, o vento do peito desesperado
E um pequeno amor sereno.

Quero traçar cada linha,
exagerar nas cores,
borrar as mãos,
pintar o sete,
deformar as formas.

Quero sentir os corações flutuando
na ardência da carne
no respiro do orgasmo
em seus pequenos gemidos.

Quero navegar na areia,
em um barco feito de pluma
ventoso ao abismo
longe de todas as explicações e fundamentos
longe dos rígidos horários humanos
para o fundo do Mar que me sustenta,
onde o mundo se inverte em um rabisco...

Quero que as estrelas caiam sobre as cabeças
abrindo a porta dos corações.
para que algo maligno
agite sobre os corpos mesquinhos
misture o escuro e o claro
aumente a cavidade da lua
aprofunde a alma em um esplendor de ondas.

Quero que os olhos partam do horizonte
que as idéias morram em suas fúteis verdades
o cérebro deforme a curta razão
e que tudo vire corpo
e o prazer reine infinitamente
sobre as castrações e hipocrisias impostas todos os dias
no tempo da imbecilidade.

Quero de uma vez por toda não ser poeta
não sentir os raios contagiantes destes dias banais
não me ver como pessoas no caminho do paraíso.
Não guiar e não servir
não nascer e não morrer
e que um forte relâmpago acorde os homens,
para que tudo seja sentir.

Quero muito mais do que os sonhos românticos,
do que os olhos estonteantes.
do que suas mãos frias correndo ao corpo
quero ter uma casa não para se esconder
mas para abrir as portas
cercada de estrelas para guerra.
desesperar com grandes amores.

Quero que o mar penetre em cada poro
entre as pernas
dilate as vaginas rindo
chegue ao útero
e que renasça no corpo
a vida cintilante gritando
com o cheiro ardente do desejo da carne.

Quero que nos rabiscos que pintam a alma
que tudo vire água
e aquilo que é passe a ser
sem os julgamentos dos juízes da moral.
sem os seus olhos atrás dos meus.
sem a esperança e a compaixão,
sentimentos que enfraquece o coração.

Quero correr descalço
nadar pelado
sentir os próprios pés
flutuar no ar...
Roubar o vento dos deuses
ter um orgasmo a cada instante
sobre a luz da lua.

Quero homens enlouquecidos no devir.
no apogeu da vitalidade
no germinar da vida
na selvageria da natureza
e podendo enfim se acabar.

Quero que uma chuva forte
apague brevemente todas estas palavras
para que nada seja ensinamento
Para que nada seja coesão
Para que os rabiscos que em meu peito agita
dobre-se sobre si mesmo
em um desejo impetuoso pela a vida.

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